29 outubro, 2010

- Procura-se.

Onde estão os homens? Os homens de verdade, aqueles que agem com o coração. Os que não têm medo de esconder seus sentimentos, não abrem mão do romantismo e tratam suas amadas como damas e não como simples objeto, para satisfazer seus prazeres. Alguém pode me dizer aonde encontrá-los?


Andei por ai em busca de um homem, um homem de verdade... E só o que encontrei foram projetos! Projetos com o traço bonito e a arquitetura impecável, já o conteúdo... Deixou a desejar. Parei para analisá-los concluí então que: São um esboço mal acabado de um projeto. Segui por aí, atrás da minha busca. [...] Decidi parar no Museu, encontrei por lá, grandes homens, homens de princípios, fortes e corajosos... Homens que viveram a anos atrás. [...]

Parti então para a biblioteca, um lugar magnífico, quem sabe lá eu não encontraria um homem, um homem de verdade. Caminhei calmamente entre as prateleiras, inspirando profundamente aquele cheiro de madeira envelhecida e de folhas cor de sépia... Uma pequena sessão de livros ao fundo da sala chamou-me a atenção, era a parte mais despovoada da biblioteca e acima, uma placa indicava "Romantismo". Adentrei a sessão, ao fundo, avistei uma figura sentada. A meu ver estava bem a vontade, sua postura não estava ereta, era bem relaxada até. À medida que alguns raios de sol passavam pela janela e refletia luz em seus cabelos, notava-se um tom louro-mel tomar conta de suas mechas. Ele vestia um terno, por dentro uma camisa de alguma banda que não pude identificar e calçava all star.

Enquanto eu dedilhava os livros na prateleira lendo seus nomes, olhei a figura pelo canto dos olhos e notei que a mesma estava me fitando. Alcancei um livro empoleirado e me dirigi para a mesa ao lado, de frente pra a mesa dele. Acomodei-me, comecei a folhear o livro, quando então desviei o meu olhar por segundos para ele. Nossos olhos fizeram o mesmo movimento e se encontraram no mesmo segundo. Seus olhos tinha uma beleza que eu não conhecia, imediatamente senti minha bochecha tomar um tom rubro, já ele... Iluminou meus olhos com um belo e largo sorriso, fazendo com que as covinhas em suas bochechas marcasse sua pele. Rapidamente desviei o olhar para que o jovem não notasse minha timidez, tomei o livro e minha bolsa nas mãos e me apressei em levantar. Em um gesto desastrado tropecei em meu próprio pé, pisando em cima do cadarço. Acabei por caí e derrubar algumas anotações e o livro que acabará de pegar.

- Idiota - me xinguei por pensamento, enquanto me ajoelhava para apanhar as coisas, foi quando vi sua sombra se aproximar, senti sua pele macia tocar minha mão, instantaneamente levantei a cabeça e busquei seus olhos. Tentei não demonstrar vergonha, embora internamente desejasse ferozmente que um buraco se abrisse nos chão e me fizesse sumir dali. – O...O...Ob... – tentei agradecer, quando fui interrompida por sua voz calma, serena e suavemente aveludada. – Hey, tome cuidado, esse romance é um dos meus preferidos. – Disse ele enquanto pegava o livro e me ajudava a levantar. – Você está bem? – Insistiu sua voz melódica. Retire o meu desejo de um buraco no chão, eu gostaria de ser um grãozinho de areia, isso sim.

Peguei o livro e sorri gentilmente, embora minhas bochechas a essa altura anunciassem o meu constrangimento. – Oh, desculpe. – Respondi alisando o livro. – Estou bem, obrigada. – Ajeitei minha bolsa em meu ombro, sorri de canto para disfarçar. – Meu nome é Noah e o seu é.... ? – Ouvi sua voz novamente enquanto me estendia a mão. – S...Sabine, prazer. - apertei sua mão delicadamente. Meus olhos sorriam. Ele então puxou uma cadeira na mesa que eu estava sentada há poucos segundos antes e se sentou. – Então... o que procura na sessão? Quase não vem pessoas aqui. – sua voz era tão doce, tão boa de ouvir que cada palavra dita soava como músicas em meus ouvidos. Ao falar seus olhos me indicaram o acento que eu acabara de levantar. – Estou a procura de um homem de verdade, não o encontro em lugar nenhum. Você o conhece? Sabe onde posso achá-lo? – Minha fala havia retomado a firmeza e meu nervosismo amenizado. Talvez a voz dele tão calma, acabou por me acalmar, de fato.

– Um homem de verdade? Como é esse sujeito? – Indagou-me curioso. Encolhi um pouco os ombros, por um instante me senti ridícula por buscar isso e pensei que seria uma busca em vão. – Ah, ele é assim... Ahn, não sei explicar. Ele não tem beleza especifica. Mais posso afirmar que é uma beleza rara, uma beleza que vem de dentro. – Beleza que identifiquei a pouco em seus olhos por sinal - pensei.

Seus olhos me analisavam profundamente, ele deveria estar me achando uma maluca. – Huum, esse homem tem nome? Você já o viu por aqui? – Questionou-me mais uma vez. Uma sensação nova passava por mim, toda vez que eu escutava o timbre da sua voz.
Mordi o interior do lábio. – Não, eu nunca o vi. E não sei como é seu nome. Só preciso encontrar um homem que ainda escreva poemas, que ainda trate sua dama como um amor pra vida toda. Um homem que não tenha vergonha de expor o seu amor e nem de dizer a ninguém que está apaixonado, que prefira uma tarde fria, abraçado ao seu amor do que uma noite calorosa em uma balada com seus amigos. Ele não precisa ter dinheiro, nem status na sociedade, ele só precisa ser ele mesmo. Um homem que ainda sonhe em construir uma família, um lar. Um homem que ainda exerce o romantismo... Um homem que não queira muita coisa, só um amor de verdade. – Me perdi em meus pensamentos enquanto descrevia o homem perfeito para ele e só quando voltei a mim, notei que Noah me olhava diferente. Seus olhos emitiam um brilho intenso, diferente. Seu sorriso era sincero e radiante. Voltei a dizer sem jeito – O que foi? Eu disse algo errado? – senti uma insegurança tomar conta de mim, meu índice de esperanças estava baixo, acho que era o fim da minha busca.

Noah continuava com a mesma expressão, calmo, porém quem o visse diria que internamente ele não estava se contendo de felicidade, eu só não sabia dizer o que lhe causava tamanha felicidade. – Um momento. – Ele disse apressado enquanto tateava seus bolsos em busca de algo. Depois de segundos ele retirou um papel bem dobrado do bolso e me estendeu. Peguei o papel, perguntei com os olhos se podia abrir, ele assistiu.

No papel um homem buscava uma mulher que lhe amasse por igual, que não dispensasse carinhos, que fosse fiel e que não abrisse mão do romantismo e no final do papel ele fazia uma exigência. “Por favor, não demore pra aparecer, estou tão precisado de você.” Um sorriso incontido tomou conta dos meus lábios ao terminar de ler, eu havia encontrado um homem de verdade. De repente uma euforia tomou conta de mim. – Quem escreveu? Você o conhece? Diga-me onde ele está? Por Favor, preciso encontrá-lo. - Ele apenas riu. Segurou minha mão por cima da mesa, olhou serenamente em meus olhos e voltou a dizer com aquela voz. – Calma, não precisa mais ter pressa. Eu estava a sua espera esse tempo todo. – Minha voz sumiu, o silêncio se perdurou por alguns minutos. Meus olhos estavam mergulhados nos olhos dele, a princípio pensei que Noah estivesse brincando, mais seus olhos diziam que aquilo não era brincadeira. Os dedos dele se entrelaçaram aos meus e a maneira como nós sorriamos nos dava a resposta de tudo.

Noah, ele era um homem de verdade. Agora eu entendi o porquê ele transbordou de felicidade quando eu perguntei. Ele levantou, agachou-se ao meu lado e envolveu seus braços ao meu redor, me entreguei naquele abraço. Foi o primeiro abraço que não sobrou espaço, nossa alegria preenchia qualquer buraco que faltasse. Foi um abraço terno e eterno na minha mente. – Existem outros como você? Ou quem te criou só criou você para me provar que o amor ainda existe? – Sussurrei. E ele me apertou um pouco mais, afagou meus cabelos e levou minha mão até seu peito, onde repousei-a por longos segundos. Ali senti as batidas do seu coração bater e quando dei por mim, meu coração respondia as batidas. Era como se nossos corações estivesse sincronizados em uma melodia, em perfeita harmonia. Dali em diante eu tinha certeza que homens de verdade existem, só é preciso saber onde procurá-los e não ter medo de amá-los.


Dedico a você, anjo.

Um comentário:

  1. Heey, lindo texto... aliás, gostei muuito desses dois últimos! PARABÉNS!

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